Via Tribuna do Norte
Em 2016 fecha-se o ciclo de 20 anos desde o aparecimento em Natal dos primeiros casos de dengue - virose transmitida ao homem pela fêmea do mosquito “aedes aegipty”-, mas as autoridades de saúde pública admitem que sem a colaboração da população não tem como erradicar o vetor da doença: o inseto que se procria em qualquer ambiente físico propício ao acúmulo de água. Segundo a Companhia Municipal de Serviços Urbanos (Urbana), em toda Natal, existem 150 pontos irregulares de depósito de lixo, entre praças, áreas verdes e terrenos baldios, e que servem de criadouros para a larva do mosquito.
Basta alguém sair de casa para constatar, na rua, que uma parcela da população natalense não colabora no combate à doença ao jogar lixo doméstico, como pneus, garrafas de vidro e plásticas (pet) de refrigerantes, latas de alimentos em conserva, caixas de papelão, restos de móveis e até carcaça de aparelhos de TV em canteiros centrais ou mesmo em calçadas da cidade.
O diretor de Operações da Urbana, Gláuber Nóbrega, disse que a companhia e as empresas terceirizadas recolhem, por mês, cerca de 18 mil toneladas de lixo doméstico em Natal, mas só de entulho no meio da rua - “sem incluir a poda de árvores“ - o volume coletado chega à metade, cerca de 9 mil toneladas.
Tal situação é mais preocupante porque a subcoordenadora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Aline Bezerra, informou, na tarde de ontem, que Natal chegou a 3.022 notificações de casos suspeitos da dengue, número que se aproxima dos 3.766 casos suspeitos da doença registrados em todo o ano de 2014.
A TRIBUNA DO NORTE circulou por algumas ruas da cidade, na manhã de ontem, e observou o descaso de moradores com o acúmulo de lixo nas ruas. Um exemplo está nas Rocas, que atualmente situa-se em terceiro lugar entre os bairros natalenses que apresentam os maiores casos de incidência de notificação da doença por cada 100 mil habitantes, com uma incidência 468,17 até a 13ª semana epidemiológica divulgada pela SMS, atrás da Cidade Alta (505,74) e do Alecrim (484,86), todos da Zona Leste de Natal.
Ao se considerar as 14 semanas epidemiológicas do ano, a SMS informa que dentre os cincos distritos sanitários do município, os sete bairros que apresentam maiores incidências de casos notificados de dengue situam-se nos distritos Leste (dois) e Oeste (cinco). No entanto, levando-se em conta as três últimas semanas epidemiológicas, os maiores índices de casos notificados ocorrem em sete dos 12 bairros do Distrito Leste.
Gari terceirizado da Urbana, Manoel Messias fazia o trabalho de coleta de entulhos e lixo jogado na rua Túlio Fernandes com a rua Rodrigo Dias, nas Rocas. “A gente tira num dia e no outro tem mais”, disse ele, que atua no bairro diariamente. “A gente não tem tempo para separar e joga tudo”, completou. Outras vias públicas nas Rocas e no Alecrim sofrem com o mesmo problema.
O lixo também se acumula na avenida Industrial João Francisco da Motta, em Felipe Camarão. A dona de casa, Edileuza Bernardino, que reside na rua Cruzeiro do Sul (uma perpendicular à João Motta) admite o problema de acúmulo de lixo na rua e que sempre há coleta. “Não dá para saber o dia, mas sempre passa um caminhão coletando o lixo”, ressaltou a moradora.
O morador José Vieira disse que o lixo jogado na calçada da Avenida João Motta “atrapalha quem vai passando e quando jogam um animal morto – é comum o atropelamento por causa do intenso fluxo de veículos - é o maior fedor”. O encarregado de Limpeza Pública da Urbana para a Zona Oeste da cidade, Antonio Alves, que acompanhava a coleta dos entulhos por uma empresa terceirizada no local lamentou a falta de educação de parte dos moradores. “Infelizmente, muitas pessoas não se educam com a questão do calendário de coleta de lixo”, disse.
Alves afirmou que em virtude disso, o custo financeiro da coleta de lixo doméstico “termina aumentando”. As pessoas não esperam pelo carro coletor na porta de casa, que passa alternadamente na segunda, quarta e sexta, em alguns bairros e na terça, quinta e sábado, em outros. Ele explicou que na manha da segunda, o acúmulo de lixo e entulhos nas ruas é ainda maior, porque, no caso da Zona Oeste, junta-se o lixo que “foi produzido no fim da sexta, sábado e domingo”.
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