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Pode até soar como pretensão, mas o grupo Os Originais do Samba dividiu águas quando surgiu na cena musical verde-amarela no início dos anos 1960. No país do Carnaval, o então sexteto foi o primeiro a gravar um disco enquanto grupo – antes deles, apenas interpretes solos haviam lançado álbuns –, e parte dessa história será contada nos palcos da Redinha e das Rocas, respectivamente, na segunda (3) e na terça-feira (4) de folia. O hoje quarteto, encabeçado por Bigode, único remanescente da primeira formação que contava com o Trapalhão Mussum no reco-reco, traz a Natal um show recheado por pérolas e clássicos do gênero.
“Boa parte do que vamos mostrar está no nosso novo disco, ‘Não deixe o samba morrer’, lançado agora no final de 2013”, adiantou Arlindo Vaz Gemino, 72, o Bigode, pandeirista e também vocalista do grupo, que estará acompanhado de Scoob (cavaquinho), Rogério Santos (guitarra e violão) e Juninho (vocalista); mais outros sete instrumentistas. O sambista contou que o grupo se encontrou como quarteto: “É muito difícil juntar seis pessoas. Tem gente que gosta de beber, outros chegam atrasados, transam drogas. Essa turma que estamos trabalhando é responsável, não dá trabalho nos shows, atraso só se for por causa do trânsito”, frisa.
Como a trajetória d’Os Originais do Samba se confunde com a própria história do samba e da música brasileira, certamente você caro leitor(a), independente da idade, já deve ter ouvido alguma música deles como “O lado direito da Rua Direita”, ou imortalizada por eles como “O teu cabelo não nega”, composição de Lamartine Babo. Mas o grupo estourou mesmo nas paradas de sucesso de todo o Brasil com “Cadê Teresa?”, de Jorge Ben(Jor).
“Estamos preparando o melhor possível”, garantiu Bigode por telefone ao VIVER quando questionado sobre o show em Natal. “Vamos apresentar um pout-pourri do Jorge Benjor, versão para ‘Trem das Onze’ e ‘Saudosa Maloca’ (ambas de Adoniram Barbosa), muito samba enredo, ‘Se gritar pega ladrão’... muita coisa boa. Vai ser um show para quem gosta de samba”, avisa.
O grupo também vai apresentar versões de samba para “Fogo e Paixão” do Wando (“Você é luz, é raio estrela e luar, / Manhã de sol, meu iaiá, meu ioiô”) e “Eu amo você” do Tim Maia.
“A banda é muito boa, nosso repertório é bem pra cima. Tocamos de tudo: samba rock, pagode, samba enredo, tudo meio funkeado. No nosso show fazemos uns seis tipos de samba diferentes”, garantiu Bigode, informando que o recém-lançado “Não deixe o samba morrer”, título da clássica composição de Edson Conceição e Aloísio imortalizada na voz de Alcione, conta com participação de expoentes do estilo. “Gravamos ‘Nega Virtual’ com Zeca Pagodinho e ‘Mulher Brasileira’ com Benito de Paula, o autor da música. Também tivemos participação de Reinaldo Príncipe do Pagode, Valmir Borges representando a nova geração e Laércio da Costa um dos maiores ritmistas do momento”, valoriza.
Durante o bate-papo, Bigode quis saber detalhes de onde iria tocar: “O palco é na beira da praia? Vão ter outras atrações no mesmo dia que nós? A galera aí curte samba, né?”
As respostas foram as melhores possíveis: no show da Redinha na segunda-feira (3), o palco está bem próximo da orla; o grupo não irá dividir atenção com nenhuma outra atração nacional; e a apresentação do Originais nas Rocas, na terça (4) promete ser apoteótico – afinal é nas Rocas onde o samba natalense se alimenta. “Ah, então vai ser bom demais!”, comemora.
Figurino
Apesar da conversa breve, Bigode fez questão de contar uma história curiosa que o grupo viveu no início da carreira. A lembrança foi desencadeada pela seguinte pergunta: “Como está o clima aí em Natal?”. Este repórter disse que o grupo poderia vir tranquilo que não está chovendo, e apesar do calor há a vantagem da brisa constante. “Que beleza, então nem preciso levar o figurino completo”.
O pandeirista original dos Originais do Samba lembrou que no começo dos anos 1970, quando o grupo começava a participar de programas na televisão, ouviram o comentário maldoso de um produtor de TV que mudou radicalmente a postura dos músicos.
“O cara trabalhava num daqueles festivais famosos da época, e disse que não tínhamos roupa para receber o prêmio. Ganhamos o festival com a música ‘Lapinha’, acompanhando Elis Regina, e mostramos que estávamos bem de figurino”, recorda. O grupo estava no auge, dinheiro não era problema, e mandaram fazer smokings com tecido importado no alfaiate que costurava para os famosos, “de (cantor e compositor) Wilson Miranda a Chico Anysio e Antônio Marcos. Rapaz, depois daquilo disputávamos para ver quem se vestia melhor: sapato de verniz, meia de seda, era briga para ver quem estava mais elegante”, diverte-se. “Hoje o pessoal veste qualquer coisa que está bom”.
Para finalizar Bigode convida: “Quem for a São Paulo precisa dar um pulo às quintas-feiras no Bar da Brahma, da Ipiranga com a São João. Fomos para tocar três dias e já estamos por lá 4 anos. Tem que ir, programa obrigatório”, garantiu cheio de simpatia.
Fonte: Tribuna do Norte
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