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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Arte na paisagem

Até o início do mês de dezembro, natalenses e turistas terão sete motivos a mais para visitar o Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte em Candelária. Anunciado na manhã de ontem, o resultado final da primeira versão do edital “Museu Aberto de Esculturas” irá permitir que visitantes passem a contemplar não apenas a natureza como também a arte na forma de esculturas de grande porte. As sete esculturas selecionadas, com dimensões que variam de 1,5 metro a 3,5 metros de altura, serão instaladas de forma definitiva ao longo dos trajetos para passeio e caminhada que cortam o parque.

Cada artista receberá um prêmio aquisição de R$ 10 mil (brutos) para construir sua obra, que no caso serão de pedra sabão, concreto, marmorito e/ou cerâmica esmaltada. Os nomes selecionados pela curadoria foram Adriana Lopes, Edilson ‘Galêgo’ de Figueiredo, Emanoel Câmara Júnior, Guaraci Gabriel Campos, José Jordão Arimatéia e Paulo César ‘Rhasec’ Gonçalves. A comissão julgadora utilizou quatro critérios (listados no edital) para avaliar as propostas: solução artística, relação da obra com o entorno, tema e solução técnica.

“Avaliamos o tema, por exemplo, considerando o contexto do Parque da Cidade. Ou seja, se um artista faz um lagarto terá mais chances que outro que apresentou um prédio ou um foguete”, pontuou Flávio Freitas, artista plástico e diretor do Departamento de Artes Integradas da Fundação Capitania das Artes, setor responsável pelo edital. Outra questão importante analisada pela comissão foi o tipo de material utilizado, pois a durabilidade da obra é fundamental para um Museu Aberto sujeito a chuva, sol, vento e areia.

A proposta da Funcarte é que a cada ano a Prefeitura reedite o edital para aquisição de novas esculturas. “Acredito que essa iniciativa complemente a ideia de que o Parque da Cidade, além de reserva florestal, também pode ser um espaço para se apreciar arte”, avalia o diretor do Núcleo de Artes Integradas da Capitania.

Ele explica que, quem foi contemplado este ano está automaticamente impedido de participar em 2015 – mas liberado para apresentar novas propostas de dois em dois anos. Em 2014 treze artistas se inscreveram no edital, e como cada um podia apresentar até três obras, pouco mais de 20 trabalhos foram avaliados para se chegar a lista final com sete esculturas.

“Vale observar que além de viável, e com potencial de se integrar a paisagem, as obras precisam ser resistentes”, destacou Flávio Freitas, que dividiu a tarefa de escolher as obras contempladas com Ana Antunes, escultora experiente já premiada no Salão de Artes Visuais de Natal; e Regina Guedes, formada em Artes no exterior foi professora do Departamento de Artes da UFRN.

O artista-gestor confessa que “particularmente” não gosta da ideia de competição, de concurso, “afinal não existe trabalho artístico melhor que o outro”, mas o sistema de avaliação é um processo necessário até para se fortalecer as políticas públicas voltadas ao segmento. “O que fizemos foi um esforço para a seleção ser a menos injusta possível. É sempre uma experiência angustiante pra mim”, admite.

Espaço limite

A princípio os artistas selecionados iriam produzir no próprio Parque da Cidade, mas os custos para dar suporte local inviabilizaram a proposta – que poderá ser retomada na próxima versão do edital. “Seria interessante os artistas produzirem por lá, até para gerar interesse nas pessoas, mas o que pudemos garantir desta vez foi o transporte das obras, que requer toda uma logística devido as dimensões e peso dos trabalhos”, disse Flávio.

Ele frisa que há um limite físico no Parque, “não é infinito, mas temos bastante espaço (130 hectares). Nada impede de, no futuro, relocarmos ou mesmo transferirmos obras de lugar”, avisa.

Para Dácio Galvão, presidente da Funcarte e Secretário Municipal de Cultura, “a iniciativa reforça ações nas áreas de artes visuais e museologia, inclusive por estar em consonância com uma tendência transversal de estreitar a arte dos museus com o meio ambiente. Um exemplo típico é o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, que passou a ser um museu a céu aberto”, citou o gestor.

“Com o Museu Aberto ganhamos nos aspectos artísticos e ambientais, reforçando as políticas públicas para o segmento”, finaliza Dácio.

O edital também prevê a produção de catálogo impresso e digital com as obras selecionadas, incluindo mapa de localização e apresentação dos artistas e também instalar a sinalização de identificação das obras no Parque da Cidade, com recurso no valor de R$ 5 mil.

(*)Colaborou Cinthia Lopes, editora

Artistas selecionados

1. Artista plástica e ceramista, Adriana Vieira Lopes
graduou-se em Educação Artística pela Universidade Federal de Juiz de Fora/MG. Em Natal concluiu o curso de Design de Interiores na UnP, onde atualmente é aluna da pós-Graduação em Arquitetura de Interiores. Possui obras em museus de Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Aprovou o trabalho “Objetos Ocultos I” (2,4 metros
de comprimento por 1,5 m de altura), feito de cerâmica esmaltada, inspirado em insetos e outros seres pequenos que habitam a área do Parque da Cidade.

2.Guaraci Gabriel é conhecido do grande público por suas esculturas gigantes feitas de metal e material reciclado. Boa parte de sua produção está concentrada na cidade de Mossoró. Já realizou exposições na Europa e participou da Bienal de Cuba; Bienal do Fim do Mundo (Ushuaia/Argentina); e da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. No início deste mês esteve na 31ª São Paulo com a performance “O Artista que Não Existe”, onde mostrou virtualmente a escultura de uma formiga de 12 metros e 5 toneladas que construiu às margens da BR 104 em Queimadas (PB). Para o Parque da Cidade aprovou versão um pouco menor de sua formiga.

3.Paulo César Gonçalves (Rhasec) nasceu em Campina Grande/PB e é graduado em Educação Artística pela UFRN, onde também fez especialização em Artes Plásticas. Cria trabalhos em pedra sabão, concreto e cerâmica em seu ateliê instalado no cemitério Morada da Paz. Sua obra, “Irmão Sol e Irmã Lua”, feita em pedra sabão possui altura total de 2,5 metros, sendo que as figuras (dos irmãos) possuem 1,2 metro de altura.

4. José Jordão de Arimatéia (Jordão). Escultor e pintor, Jordão assina vários paineis e esculturas de grande porte, em concreto, espalhadas pela cidade como o finado Anjo Azul e o muro da Câmara Municipal de Natal. Suas obras também podem ser vistas no estacionamento do Hotel Buriti no Alecrim e no Centro de Convenções. Para o Parque da Cidade o artista irá criar um “São Francisco” de concreto com 3,5 metros de altura.

5.Emanoel Câmara Júnior é autodidata e discípulo direto de Manxa e Jordão. Apresentou o trabalho “Totem”, com 2,80 metros de altura em pedra calcária, reunindo em uma só peça índio, gavião, serpente, boto, leão e coruja. A obra está em fase de acabamento.

6.Edilson de Figueiredo (Galêgo) trabalha com escultura em bronze, granito, mármore e concreto. Autor da escultura “A Deusa da Justiça” no Palácio da Justiça na Cidade Alta, e da “Fonte dos Jabutis” no Via Direta, Galêgo apresentou a escultura “Vendedora de Mangas”, em marmorito, com 2 metros de altura. Detalhe: as mangas serão substituídas por cajus.

7.Raimundo João de Araújo (Mundoca) é artesão autodidata, faz parte da equipe que construiu a escultura de Iemanjá, na Praia do Meio, e o painel na fachada do Edifício Rio Mar (este assinado por Jordão). Sua escultura “A Preguiça”, de concreto, possui 3 metros de altura.

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