Os primeiros retratos de pessoas
negras do Rio Grande do Norte, fotografadas por José Ezelino da
Costa, no início do século 20, serão apresentadas ao público, pela primeira
vez, na exposição "Quando a pele incendeia a memória – Nasce um
fotógrafo no sertão do século 19". A exposição começa nesta
quarta-feira (60 e vai até 30 de setembro, no 2º piso do Natal Shopping,
paralelamente ao lançamento do livro que dá nome à mostra da
professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), Ângela Almeida. A iniciativa conta com incentivo da Lei
Djalma Maranhão, da Prefeitura do Natal.
A exposição, que tem curadoria de
Ângela Almeida e expografia de Rafael Campos
e Michelle Holanda, contará com 40 fotografias. Os
retratos revelam a identidade social da cultura negra e o
dia a dia da região do Seridó, cuja sociedade da época era
predominantemente branca, comandada por uma elite de coronéis e
fazendeiros.
A importância histórica do legado
de José Ezelino reside nos pequenos detalhes estéticos e sociais de
sua fotografia. Um pioneirismo silencioso, que agora vem à
tona publicamente. “Não podemos afirmar que
José Ezelino quisesse revelar alguma espécie de racismo sobre sua
condição de negro ou sobre a sociedade que vivia. Entretanto, podemos perceber
que ele provocou por meio de sua fotografia, uma imagem forte de identidade
social, principalmente por ser uma sociedade de descendência branca
aristocrática. Assim, ele registrou lindamente os negros, seus descendentes da
mesma estética que fotografava as famílias brancas que iam ao seu estúdio”,
explica Ângela Almeida.
Sobre o fotógrafo
José Ezelino nasceu em
1889, na cidade de Caicó. Filho de pais
escravos, tornou-se fotógrafo quando a fotografia ainda era recente
para um sertão distante dos centros urbanos do Brasil. Ele conseguiu a
façanha de retratar a si e aos seus familiares usando a mesma linha
estética das famílias de alta classe da região Sudeste brasileira e
dos países europeus colonizadores. Figurino, direção, cenários e
captação eram criações do próprio artista. Isso sem nunca ter tido acesso a
nenhum tipo de referência, pois sua viagem mais longa foi à cidade do Recife
(PE).
Não existe nenhum registro
fotográfico semelhante ao de José Ezelino no Brasil. A maioria dos
registros é da população negra retratada como vendedores de ruas ou como
trabalhadores de baixo escalão. Além dos registros familiares,
José Ezelino produziu um vasto material da cidade
de Caicó e demais regiões do Seridó. Infelizmente, muitas destas
fotos foram perdidas ao longo dos anos, o que fortalece ainda mais a
importância do trabalho da pesquisadora Ângela Almeida.
Além de
fotógrafo, Ezelino debruçava-se na área musical. Chegou a
formar uma banda com repertório de jazz e música sacra. Morreu em 1952,
mas seu legado permanece.
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